sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ALGUNS POVOS ORIGINÁRIOS DO BRASIL: GUARANI M'BYA, KARAJÁ-INY, TREMEMBÉ, JENIPAPO-KANINDÉ, PITAGUARY E TAPEBA

O Brasil é o único país do mundo em que povos tradicionais ainda se mantem isolados  e muito pouco se sabe sobre mais de 220 grupos étnicos que se distribuem em milhares de aldeias por todo o território nacional. Diversos idiomas, crenças e costumes distinguem os povos indígenas das demais etnias que juntas formam a nação brasileira, mas que em sua maioria são desconhecidos gerando um desencontro cultural que se transforma em preconceito e conflitos.
Vamos conhecer um pouco sobre alguns povos indígenas que  compõem esse mosaico cultural brasileiro.

Povo GUARANI M'BYA

Foto 1: Milton Guran, 1988

Os Guarani são o povo originário da região sul e sudeste, desde o Mato Grosso do Sul ao Rio Grande do Sul, com população também nos países vizinhos como a Argentina, Bolívia e Paraguai.
Seu canto forte e poderoso é passado de geração a geração, desde que Nhanderu criou o mundo e todas as coisas. Reúne o povo no Opy, Casa de Rezas e com o ritmo do mbaraká (chocalho) e a fumaça do Petynguá, cachimbo cerimonial, ajuda a manter o céu suspenso.
Os cantos tradicionais são de reverência ao Criador, agradecendo pela vida e pedindo iluminação para o espírito seguir seu caminho até encontrar a Terra Sem Males.
As crianças cantam juntas, com a força de seu coração puro ao som dos instrumentos - o mbaraká, o violão,a rabeca. Os movimentos da dança completam o canto, fortalecem e preparam o corpo. a fumaça do cachimbo tradicional sobe para  céu estabelecendo a comunicação com os espíritos.
Língua: Guarani - tronco Tupi Guarani
Tempo de contato: 500 anos

Povo KARAJÁ-INY


 Foto 2

O povo Iny é o povo das águas. Compartilham o Rio Araguaia com os outros seres da natureza desde que os ancestrais, curiosos com o mundo desconhecido que havia além de um orifício na superfície da água, deixaram as profundezas do rio e atravessaram para este mundo.
Toda a vida e história do povo Iny está diretamente ligada ao Araguaia e ao seu mito de origem: a localização das aldeias, a posição das casas, as cerimônias e as festas. Os dois círculos tatuados nas maçãs do rosto - o omarura - são expressão da identidade do povo Karajá.
Seu canto forte e melodioso alegra os ancestrais, os seres mágicos do rio, mantém o equilíbrio da comunidade, introduz as novas gerações nos ensinamentos da tradição. Assim os Iny-Karajá preservam os ensinamentos dos ancestrais enquanto buscam formas de convivência com a sociedade brasileira.
Aruanã e Hetohoky são as principais cerimônias. O Hetohoky - a Festa da Casa Grande - é o rito de passagem dos meninos para a fase adulta, quando os homens pintam o corpo com jenipapo, usam plumas de pássaros nas pernas e braços e um cocar em forma de grande círculo com penas brancas, pretas e rosa - o ahetô.
O Aruanã é a cerimônia dos espíritos das águas. Pode acontecer junto com o Hetohoky como em separado. Os homens que incorporam os espíritos cantam e dançam com o corpo coberto com máscaras de palha, tocando o maracá. Jovens meninas acompanham adornadas com plumas, braçadeiras, brincos e uma tanga de entrecasca de madeira pintada com grafismos tradicionais.
Língua: Karajá - tronco Macro Jê
Tempo de contato: aproximadamente 200 anos

Povo TREMEMBÉ

Foto 3: Carlos Guilherme do Valle, 1991.

Os Tremembé aparecem nos registros históricos desde o século XVI ocupando toda faixa litorânea desde o Pará até p Rio Grande do Norte.
Esse povo guerreiro, de caçadores, pescadores e coletores, foi perdendo seu território para os colonizadores e depois para os grandes empreendimentos da região. Mas, esse povo vem se reorganizando em torno de sua tradição, buscando unidade e força nos rituais do Torem, que se diferencia do Toré praticado por outros grupos do nordeste.
No centro da roda o mestre puxa o canto, o maracá dá o ritmo marcado pela batida forte dos pés no chão. O povo fecha a roda e dança respondendo ao canto numa língua que guarda palavras de um outro tempo. No centro da roda uma cuia de mocororó, bebida tradicional, feita de suco de caju fermentado, é servida aos participantes da cerimônia.
Língua: Português / Poromonguetá
Tempo de contato: 400 anos

Povo JENIPAPO-KANINDÉ


Foto 4

Os Jenipapo-Kanindé formam uma comunidade pequena no litoral do Ceará, mas guerreira. A pesca é a principal atividade, realizada o ano inteiro usando muitas técnicas e várias armadilhas de confecção tradicional. O caju também para a vida e a economia da comunidade, que prepara doces e a bebida fermentada Mocororó, usada nos rituais.
Vivem unidos, casam-se somente entre as pessoas do próprio grupo, nunca saíram de seu território, mesmo em momentos de maior dificuldade.

Língua: português
Tempo de contato: 400 anos

Povo PITAGUARY

Foto 5

O povo Pitaguary vive na região metropolitana de Fortaleza e sua economia se baseia fundamentalmente na agricultura, pesca e artesanato. A mata, com todos os seres mágicos que a povoam, suas ervas e plantas de cura, são o território para a vida e para o espírito. O poder dos pajés vem da mata e do contato com os ancestrais.
São descendentes dos Potiguara e buscam desde 1991 a afirmação de sua identidade e reconhecimento de seu território tradicional.
O Toré é um importante instrumentos de afirmação da identidade, de conexão espiritual e de luta por seus direitos.


Língua: português
Tempo de contato: 400 anos

Povo TAPEBA

Foto 6


O povo Tapeba vive nos arredores de Fortaleza muito antes lugar se tornar uma cidade.
O Toré é a expressão máxima para os povos indígenas dessa Terra da Luz, é a base cultural e espiritual que reúne o povo em torno de sua identidade, fortalece as raízes e a herança ancestral.
Os cantos do Toré são de reverência ao criador, agradecendo pela vida, pela colheita, pelas conquistas e pedindo iluminação para o espírito seguir o caminho neste mundo material. A dança traz  leveza para o corpo e para a alma, paz e tranquilidade. Pacifica os espíritos maus e traz a energia da luz e do bem.
O povo Tapeba tem hoje um Centro de Produção Cultural onde o artesanato, sua história, sua culinária e arte estão reunidos como referência para o próprio povo e para afirmação diante da sociedade envolvente.

Língua: português
Tempo de contato: 400 anos



FONTES

PAPPIANI, Angela. Textos do Catálogo Rito de Passagem  Canto e dança ritual indígena. IDETI: Cariri/Fortaleza, 2008.

OBS: Agradeço a Júlia de Jericoacoara por me ceder parte do material aqui postado.




6 comentários:

  1. Oi Ana,
    Gostei do blog e do conteúdo.
    Seguindo e compartilhado.
    Espero te ver seguindo o Travessia.
    Um abraço.

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  2. Ana ,
    Muito bom saber de tudo isso .
    Quanta cultura , quanta informação sobre nossas origens .
    Quanta diversidade também , mesmo entre os indios .

    Lendo seu artigo , a gente percebe que sabe tão pouco sobre os indios .

    Cada tribo tem sua identidade e costumes diferentes .
    abs
    Francisco

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    Respostas
    1. Obrigado, Francisco...eu sou apaixonada pelas populações indígenas de todo o continente, mas também me preocupa muito o fato de que no Brasil nossos povos originários são pouco conhecidos e alvo de muitos preconceitos. Um grande abraço.

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  3. Parabéns pelo post!
    A alma do povo brasileiro é indigena apesar da maioria se envergonhar disto.
    Eu me alegro e agradeço a Deus por ter no sangue e na alma a diversidade étnica deste país amado!

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  4. Que ótimo...muito obrigado!!! E viva a diversidade...Abs.

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