terça-feira, 30 de agosto de 2011

O AMARGO DOS DEUSES QUE VIROU DOCE DOS FRADES

Algo que hoje é consumido mundo afora, o chocolate, também é oriundo da América. O Theobroma cacao, árvore originária da América do Sul, produz o cacau e com suas sementes  é feito o chocolate. Os primeiros a transformarem o cacau em bebida foram os Mokaya, ancestrais dos Olmecas, que há cerca de 4.000 anos  já assavam e moíam suas sementes, adicionando-lhes água. A própria palavra chocolate é de origem nahuatl, "xocolatl", que significa "água amarga". Os Maias e Astecas também consumiam essa bebida sagrada, que servia entre outras coisas para acabar com o cansaço, dar vigor sexual, criar resistência contra as intempéries, entre outras funções medicinais. Seu gosto era amargo e só a elite podia consumi-la, pois à parte de suas propriedades revigorantes, a semente do cacau também servia como moeda de troca no mundo meso-americano.

Códice De La Cruz/Badiano
Plantas usadas no tratamento de fadiga, entre elas o cacau.
(Libellus de medicinalibus, 1991, fl.38r).

Quando Colombo chegou à América conheceu as sementes de cacau, mas não deu importância. No entanto, as fontes apontam três hipóteses para sua introdução na Europa. A primeira, indica que foi o próprio Colombo que levou as primeiras sementes no regresso de sua quarta viagem. A outra hipótese aponta que Hernan Cortés depois de  provar a bebida dos deuses oferecida pelo chefe Asteca, Montezuma, a levou para a Espanha. Por último, as fontes dizem que o frade Jerónimo de Aguilar, que acompanhava Cortés, enviou as primeiras sementes para um abade pertencente à sua ordem, o próprio cacau e a receita do chocolate. E assim, o chocolate foi produzido pela primeira vez na cozinha do mosteiro cisterciense, "Monasterio de Piedra",  localizado nas proximidades de Zaragoza no começo do século XVI. Os espanhóis ficam encantados com a bebida exótica e a adaptam ao seu paladar juntando-lhe açúcar ou mel, baunilha, pimenta e outros produtos, criando sabores semelhantes aos que encontramos nos chocolates atuais. Na época, frades e freiras eram os responsáveis pela produção do chocolate, cujo consumo foi amplamente difundido, pois segundo os religiosos por ser uma bebida não quebrava o jejum. O segredo a respeito dessa iguaria foi mantido pelos espanhóis por pelo menos um século e só depois disso, o resto da Europa conheceu o chocolate. Uns dizem que foi o italiano Antonio Carletti que descobriu essa receita e a divulgou em outras regiões europeias. Também há a versão de casamentos reais responsáveis pelo início de consumo dessa bebida na França, como o de Ana da Áustria, filha de Filipe III da Espanha, que se casou com Luís XIII da França e considerou o chocolate a bebida oficial na corte francesa. Ou ainda, a união de Maria Teresa da Espanha, com Luís XIV, que corroborou esse costume. Desse modo, o consumo de chocolate se espalhou por toda a Europa e até 1828 era consumido como bebida. É quando o holandês van Houten cria uma máquina que torna possível a produção de chocolate sólido, permitindo o aparecimento das primeiras tabletes e bombons. Surge então o chocolate ao leite, com amêndoas e tantos outros ingredientes que fazem dessa antiga bebida exótica americana uma delícia mundial.

Fonte: 
LA CRUZ, Martín de. Libellus de medicinalibus indorum herbis; manuscrito azteca de 1552 según traducción latina de Juan Badiano. México: Fondo de Cultura Económica/Instituto Mexicano del Seguro Social, 1991.

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