sábado, 9 de julho de 2011

CAIAPÓS: POVO ESQUECIDO DE FRANCA - SP



Na nossa região habitaram os Caiapós[1], povo simples, que teve contato com os primeiros bandeirantes no começo do século XVII, sendo Belchior Dias Carneiro o responsável pelo primeiro registro de 1607. Tais índios viviam em aldeamento entre os rios Pardo e Sapucaí, na região de Batatais, que recebeu esse nome exatamente porque tinham por costume plantar batatas. Em 1660, os Caiapós foram repelidos, mas retornaram no século XVIII e rondaram a região até o início do século XIX, quando foram definitivamente expulsos da região. Nessa época, criou-se a freguesia de “Nossa Senhora da Conceição da Franca” em homenagem ao governador da Capitania Paulista, Antônio da Conceição José da Franca e Horta (1805) e em 28 de novembro de 1824 esta se transformou em município com o nome Vila Franca do Imperador. Os Caiapós, cujo nome significa “queima mato”, voltaram a atacar em maio de 1826, evento esse registrado em ofício sobre os “Índios Selvagens” na região de Franca, cujo original se encontra no Arquivo do Estado de São Paulo. Os Caiapós depois de muito tentarem se manter nessa região, acabaram por desistir e foram em direção ao sertão.
Entre seus principais costumes, tanto no passado como nos dias atuais, está o hábito de usar botoques no lábio inferior e nas orelhas, além do uso das pinturas corporais que variam de acordo com a idade, estado de espírito e rituais. As mulheres cuidam do plantio e afazeres domésticos e os homens da “política”, guerra, caça e rituais. Nas aldeias há vários chefes, um em cada casa comunitária e para se tornar um desses homens é necessário aprender com os mais velhos e não necessariamente os chefes devem ser parentes. Para os Caiapós, a aldeia é o centro do universo e a floresta o espaço anti-social, por isso, antes de sair para caçar, pescar ou abrir uma área para o plantio é necessário dançar, cantar, praticar rituais de proteção e depois é necessário agradecer também com novos rituais, mostrando assim a íntima ligação do homem com a natureza. Eles acreditam que os espíritos dos mortos vivem em aldeias distantes, mas só de noite, por isso, as mulheres fumam e cospem durante o plantio para espantar os espíritos. Para eles o homem é formado de corpo, espírito e energia vital e o sangue é considerado uma substância perigosa, pois se a pessoa tem pouco necessariamente contrai doenças e se tem em demasia se torna indolente, por isso, a prática de escarificar as coxas dos meninos ou tatuar o peito dos guerreiros para se livrarem do excesso ou do sangue “mau” de seus inimigos. Hoje os Caiapós são considerados um dos grupos mais ricos do Brasil, graças à exploração de mogno e ouro no sul do Pará.
Em nossa região a herança indígena está presente nos nomes das cidades, na culinária, no conhecimento de ervas para cura ou para tempero e em costumes simples, como andar descalço, banhar-se nos rios, usar cestos e tantos outros hábitos que nos remetem à comemoração do Dia do Índio. A data em si está relacionada ao Primeiro Congresso Indigenista ocorrido no México em 1940, em que grupos indígenas foram convidados a participar e num primeiro momento, desconfiados, não aceitaram. Mas, no dia 19 de abril eles compareceram e desde então no continente americano essa data é festiva. Cabe-nos refletir então, se no Brasil as pessoas realmente reconhecem o valor desses povos ou se simplesmente só se lembram deles quando aparecem nos jornais episódios como o do ataque por Caiapós ao engenheiro da Eletrobrás. Parece que a nossa memória em relação a esses povos apenas absorve o lado negativo, esquecendo da grande contribuição cultural que nos foi legada.

 (Fotógrafo Alex de Almeida)



[1] Agradeço o apoio de Vinícius Pires na coleta de documentação sobre os Caiapós.

4 comentários:

  1. Ana, olha que interessante. A floresta é o espaço anti-social para os Caiapós. E é o incivilizado para os cristãos e essa concepção está, inclusive, na expansão para o Oeste Americano e na Idade Média quando as florestas eram locais de paganismo. São modos de encarar as florestas que estão bem próximos, mas que se tratam de culturas bem divergentes!!! Curti muito o texto!!!
    Beijos,
    Ricardo

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  2. Como sempre...o homem tendo características culturais em lugares e épocas distintas...bom que tenhas feito essa análise. Bjs.

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  3. oi meu nome e samyr e tenho 12 anos gostei muito de ler esse texto,e muito interessante

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