sexta-feira, 29 de julho de 2011

O CURANDEIRO É A SOLUÇÃO

Ainda hoje os curandeiros são muito procurados no Peru, pois eles curam utilizando ervas e rezando, de acordo com antigas tradições indígenas. Fora isso, também trazem a pessoa amada de volta, resolvem problemas de inveja,  ódio, hostilidade e muito mais. 


Anúncio exposto no centro de Lima

Desde a antiguidade, o homem andino possui grande conhecimento sobre determinadas doenças, como por exemplo, paralisia, problemas no pulmão e no coração, deformações físicas diversas e outras. Isso pode ser comprovado examinando cerâmicas de várias culturas andinas, como a Chimu e a Moche, que deixaram muitas peças representando lábio leporino,  mutilações, defeitos físicos, amputações e outras enfermidades.

Cerâmicas representando enfermidades

Deformações no nariz e lábio superior

Atualmente, esses ditos "bruxos" conseguem curar diversas enfermidades usando, por exemplo, um ovo para diagnosticar câncer. Ao passá-lo no corpo do paciente várias vezes, o que houver de errado passará para dentro do ovo e ao abri-lo formas estranhas serão encontradas. Assim, o diagnóstico poderá ser feito e também o preparo dos unguentos ou chás a ministrar ao doente. Os banhos de ervas são comuns, as benzeduras, as defumações e os chás, que são sorvidos pelo curandeiro e em seguida cuspidos na pessoa a ser tratada. Essa é a chamada medicina tradicional que, entre outras coisas, é procurada por motivos psicológicos, pois o medo, ansiedade e as frustrações levam as pessoas a buscar a proteção da magia ou da religião. Também o isolamento de algumas populações, o analfabetismo e a pobreza são alguns dos motivos sócio-econômicos que permitem que a medicina tradicional subsista. Por fim, mencionamos a questão política como fator, visto que só recentemente povos da área andina e da selva passaram a ter acesso a médicos. Até então, eles só podiam contar com os curandeiros e as parteiras.
O símbolo da medicina tradicional foi encontrado em Chavín de Huantar num monolito, onde aparece o hampicamayoc, um médico antigo com cara de jaguar, a cabeça com serpentes e na mão o cacto psicotrópico, conhecido como San Pedro, que produz alucinações ao ser ingerido e permite ao médico o poder da cura. 

Hampicamayoc [1]


Cacto San Pedro

O mais importante a saber é que a concepção de doença na medicina tradicional é bem distinta da medicina acadêmica, pois de acordo com a cosmovisão indígena, os deuses bons são os que protegem as pessoas para que sejam saudáveis e os deuses maus são os que provocam as enfermidades, mortes e outras desgraças. Portanto, a busca por curandeiros na atualidade é absolutamente compreensível, pois não basta o uso de remédios, faz-se necessária a realização de rituais, oferendas, tudo para conseguir a intervenção divina no processo de cura.

OBS: Fotos de acervo próprio.

4 comentários:

  1. Sempre achei a História da Medicina algo fascinante. Essas formas de cura, também podem ser vistas como uma resistência da cultura indígena perante aos católicos, pois tantas vezes os espanhóis tentaram extirpar essas práticas que na visão deles eram demoníacas e elas perduraram até hoje. Apesar, da maior parte da população do Peru ser católica, as práticas indígenas aparecem mescladas a essa religião e fazem parte do imaginário da população andina. Para mim, essa é uma das grandes belezas da América, o emaranhado de culturas que a "conquista" gerou!

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  2. Concordo plenamente contigo e é exatamente por isso, que também acabei me apaixonando por esses temas...bruxaria, demonologia, extirpação de idolatrias e mais recentemente...pelas enfermidades conhecidas e tratadas pelos curandeiros desde tempos idos. Bjs.

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  3. Muito legal, Ana Raquel! Também sempre me interessei pela história da medicina, sobretudo pela diversidade das terapêuticas. É interessante observar o pararelismo simbólico presente no universo da medicina, no caso, representado pela figura da serpente. Você sabe me informar qual o significado(s) da representação serpente? Outro fato legal é a concepção de doença e de terapia que a medicina popular defende, isto é, um concepção holística do ser humano e a indissociabilidade entre corpo e mente para fins de equilíbrio.

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  4. Muito legal, Ana Raquel! Também sempre me interessei pela história da medicina e sobretudo pela diversidade das terapêuticas. É interessante notar que há paralelismos no universo simbólico da medicina, no caso a representação da serpente. Você sabe me informar qual é o significado dessa representãção? Outro fato que me chamou a atenção foi a concepção de doença e o envolvimento do doente no processo de cura. Geralmente por se tratar de um modelo terapêutico holístico, mente e corpo(matéria) são devidamente valorizados. Por fim, algo que sempre me intrigou foi como ocorre o processo de transe, isto é, qual meio ou recurso é utilizado para se conectar com a espiritualidade, no caso dos povos pré-quinhentistas, o uso do sumo do cacto, e em outros processos contemporâneos o uso da Aiausca por tribos indígenas ou o uso da hiperventilação - no caso espírita, especialmente no IMA ou centro espírita do Doutor Alonso, Franca SP, para se tratar as doenças da alma.

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