segunda-feira, 12 de novembro de 2012

DA TEOCRACIA AO APARECIMENTO DO ESTADO


A Província de Lima se estende de Ancón até San Bartolo e nela existem muitos sítios arqueológicos, que seguindo uma cronologia histórica nos contam parte da história do povo peruano.


Cerro Paloma

Na Tablada de Lurín, localizada ao sul de Lima, encontramos vestígios da presença humana do período lítico, quando estes ainda viviam em abrigos naturais e se alimentavam dos recursos disponíveis obtidos por meio da coleta. Por volta de 5.000 a.C., o homem peruano começou a domesticar as plantas e os animais. No terceiro milênio (a.C.) ocorreu a chamada revolução neolítica, que é quando o homem começa a dominar o meio ambiente e passa a viver em aldeias. Desenvolve a exploração dos recursos naturais e passa a gerar excedentes agrícolas e marinhos. Cerro Paloma data desse período, sendo o mais antigo exemplo desse tipo e o mais simples de todos.


Chavín de Huantar

No segundo milênio (a.C.), aparece a cerâmica que foi de grande importância para a passagem do período arcaico para o formativo, quando acontece a revolução social. Nesse período apareceu um novo estilo de vida, pois o grande avanço tecnológico agrícola acumulado nas épocas anteriores e o crescimento populacional acarretaram na necessidade de trabalho especializado a serviço da agricultura. Apareceram os primeiros templos e seus sacerdotes, que eram os especialistas que dominavam o conhecimento sobre o movimento dos astros e as técnicas agrícolas e de distribuição de águas, essenciais à ampliação da produção nos campos de cultivo. Com o aumento de seus conhecimentos eles adquiriram grande poder social, surgindo assim a teocracia, governo de deuses que possuem seus representantes, o que levou à origem das diferenças sociais e mais tarde à origem do Estado. Paralelamente a essas mudanças, surge Chavín de Huantar, que segundo alguns pesquisadores, seria o berço da teocracia no antigo Peru, pois com todo o seu desenvolvimento tecnológico e econômico, Chavín se tornou o centro cerimonial mais importantes dos Andes e o ponto de ligação entre todos os caminhos, dominando assim o escambo com todas as regiões. Em Chavín se encontram representados nas pedras deuses ferozes e repressores, fazendo com que os sacerdotes assegurassem sua supremacia sobre os camponeses. El Paraiso, localizado ao norte de Lima, foi o primeiro grande centro cerimonial da costa representante dessa nova estrutura social e Garagay, que data de 1.200 a.C., trata-se de um exemplo do estilo Chavín.


El Paraiso


Deus do templo de Garagay


Os templos tiveram outras funções, pois também serviram de armazéns de alimentos, que eram o tributo pago pelos camponeses aos sacerdotes, que não participavam da produção agrícola, apenas a controlavam. Em algumas comunidades havia a reciprocidade entre sacerdotes e camponeses em relação ao abastecimento de todos, mas isso não era uma norma, pois alguns grupos foram praticamente escravizados pelos sacerdotes. Assim, algumas regiões cresceram mais e passaram a dominar outros locais mais fracos através da guerra. É quando acontece a transição entre a queda de Chavín, centro representante do sistema teocrático, e o surgimento de senhorios e reinos regionais. A Huaca Pucllana pertencente à cultura Lima e datada de 400 d.C., está situada em Miraflores e é um exemplo desse período.


Huaca Pucllana


No entanto, foi somente a partir de 650 d.C. em Ayacucho, que surgiu a cultura Wari como resultado desse movimento social, em que finda a supremacia dos grandes centros cerimoniais e aparecem as grandes cidades, cheias de palácios, centros administrativos e armazéns. O grupo Wari se espalhou por todo o território peruano em busca de produtos variados e mercados para o intercâmbio, que lhe permitiram grande desenvolvimento. Cajamarquilla, localizada perto de Lima, é um centro urbano Wari para armazenamento de produtos que entre 400 e 1.100d.C. foi o centro do sistema de caminhos regionais durante o apogeu da cultura Wari. A reciprocidade existente na época teocrática foi substituída pela obrigatoriedade tributária que o campo devia à cidade e, além disso, a cidade Wari cresceu em demasia e a produção agrícola deixou de ser suficiente para seu abastecimento, gerando descontentamento dos povos subjugados pelos Wari, que começaram a lutar contra eles, levando ao fim dessa cultura por volta de 1.100 d.C.


Parte da cidade Wari

Durante os séculos X a XV, a produção passou a ser mais especializada, levando à expansão do sistema urbano de vida. Puruchuco, construído pouco antes da dominação Inca, foi a residência de um grande senhor, visto que depois do declínio Wari, os senhorios voltaram a se desenvolver.


Puruchuco

Depois desse período, apareceram os Incas com sua formação urbana, dedicados à agricultura e que possuíam um sistema de redistribuição, fazendo com que a terra fosse a maior fonte de riqueza.
No caminho para Lunahuaná encontramos Incahausi, que foi construída pelos Incas durante o período de conquista dos territórios limenhos.


Incahuasi


Pachacamac é outro grande exemplo da presença Inca na Província de Lima, pois nela podemos encontrar o Templo do Sol e a Aclla Huasi (Casa das Escolhidas), que são construções características desse povo.


Aclla Huasi - Pachacamac

Podemos perceber que ao longo da história do Peru ocorreram mudanças sociais que levaram ao surgimento de novas organizações políticas e econômicas. No entanto, sobre a passagem do período teocrático para o estatal existem opiniões distintas. O fato de a teocracia ter aparecido de forma marcante na cultura Chavín, alguns pesquisadores acreditam que sua decadência levou ao desaparecimento dessa forma de governo (WILLIAMS, 1980). Outros pensam que a teocracia nunca acabou, apenas surgiu paralelamente ao aparecimento do Estado (Waldemar Espinoza, 1985). Uma terceira linha de pensamento aborda o fim da teocracia como resultado das novas necessidades sociais dos povos, que insatisfeitos com o domínio dos sacerdotes, começaram lutar entre si para dominar novas regiões, ocasionando o surgimento dos reinos regionais, que nada mais são, do que os primeiros Estados (Lumbreras, 1989).

BIBLIOGRAFIA

AGURTO CALVO, Santiago. Lima prehispanica. Lima: Municipalidad de Lima, 1984.
CANZIANI AMICO, José. Asentamientos humanos y formaciones sociales en la costa norte del antiguo Peru. Lima: INDEA, 1989.
ESPINOZA SORIANO, Waldemar. Los modos de producción en el Imperio de los Incas. Lima: Amaru Editores, 1985.
LUMBRERAS, Luis G. Chavín de Huantar en el nacimiento de la civilización andina. Lima: INDEA, 1989.
MILLA VILLENA, Carlos. Genesis de la cultura andina. Lima: Fondo Editorial CAP Coleccion Bienal, 1983.
ROSTWOROWSKI DE DIEZ CANSECO, María. Costa peruana prehispanica. Lima: IEP, 1989.
WILLIAMS, Carlos. Arquitectura y Urbanismo en el Perú Antiguo. In:  MAJÍA BACA, Juan (Org.) Historia del Perú. Lima: Editorial Juan Mejía Baca, Lima, 1980.

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