Guaranis (Foto: Leandro Quadros)
Um dos
maiores especialistas na cultura Guarani, Bartolomeu Meliá, afirma que a busca
da Terra Sem Mal é o motivo fundamental e razão explicativa da migração desse
povo. A Terra Sem Mal é essencial para a construção do modo de ser guarani[1], pois é nela que vão
encontrar a paz e a fartura.
Vestígios
arqueológicos mostram que os guarani ocuparam sempre regiões férteis para o
cultivo de milho, mandioca, vários tipos de feijões, abóbora, batata e
amendoim. A vida guarani está associada à terra, que os obriga a adaptarem-se,
criando as condições de povoamento, afetando a dimensão das aldeias e a
densidade demográfica. Mas, a terra para essa cultura não significa apenas um
meio de produção, ela se identifica com a Tekoha,
que é um espaço sócio-político que possibilita o modo de ser guarani. Essa
estrutura é composta por três espaços: da caça e pesca, do cultivo e da residência.
Para o guarani a terra não é uma deusa, mas está impregnada de religiosidade e
isso se verifica em seu pensamento mítico e seus rituais. A terra é o suporte
fundamental para a economia de reciprocidade guarani e assim como existe uma concepção
de terra perfeita, também há a consciência da instabilidade dessa terra, cujo desequilíbrio
começa no desgaste ecológico originado
pelo tipo de agricultura praticada pelo guarani, que é o roçado, que com o
tempo os obriga a abandonar as terras cansadas e buscar outras novas.
No período
colonial, esse espaço guarani foi afetado e modificado e a alternativa de fuga
para novos lugares se tornou cada vez mais difícil. Hoje em dia, o grupo usa da
imaginação para recriar espaços ecológicos semelhantes aos tradicionais para
preservar a sua tekoha, que lhes
assegura a liberdade e a possibilidade de manter a identidade étnica. A busca
da Terra Sem Mal, do solo onde os guarani podem viver seu modo de ser autêntico,
esbarra em interesses econômicos e especulativos e no desinteresse
governamental de criar políticas públicas de proteção às culturas indígenas
brasileiras. O grupo guarani, especificamente, necessita dessa mobilidade para
assegurar sua identidade cultural e a demarcação de terras apenas os confina
territorialmente, privando-os de manterem sua organização social tradicional.
Eles estão conscientes da inexistência de outra alternativa, mas precisam que
pelo menos suas terras sejam reconhecidas para assegurarem a sobrevivência
cultural do grupo.
[1]
MELIÁ, Bartolomeu. La Tierra-Sin-Mal de los Guaraní: economia y profecia. América Indígena. Vol.XLIX, n.3,
México, Jul-Set, 1989, p.491.
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