sexta-feira, 16 de novembro de 2012

FRONTEIRAS DISCURSIVAS EM CRÔNICAS HISPANO-AMERICANAS DA CONQUISTA




Pintura do muralista peruano Josué Sánchez


Ao mergulharmos no imaginário do século XVI, através das linhas de cronistas que outrora relataram seus feitos e impressões a respeito de si e do outro, deparamo-nos com a dificuldade inerente àquele que trabalha com uma utensilagem mental[1] diferente da sua. Para descobrirmos as representações coletivas do outro, temos que nos despir dos hábitos mentais próprios do século XXI e procurar compreender as palavras e os símbolos que representam a psiquê coletiva do homem do século XVI[2].
Conhecer o mundo andino aos olhos de europeus colonizadores e de ameríndios ladinos[3] é uma tarefa árdua, que remete a discussões teóricas em torno do discurso utilizado por tais cronistas. Sabemos que tais discursos foram, por vezes, forjados para atender a necessidades coloniais, mas também, são resultantes das práticas culturais entre esses povos. A história cultural aborda essa problemática, procurando perceber as representações culturais de cada grupo e o por quê de as assim terem construído.

  
Interpretações sobre história cultural

O renascimento da narrativa historiográfica[4], permite que o historiador faça conjecturas na falta de comprovação dos dados, desde que deixe evidente esse procedimento[5]. Tal metodologia, a nosso ver, reflete a problemática em torno da concepção da história como forma de conhecimento. O historiador trabalha com documentos representativos de uma determinada época, que de forma alguma são uma prova verossímil dessa realidade. Esses documentos fornecem-nos apenas indícios, pistas[6] do que poderá ter acontecido no passado. Cabe ao historiador, saber interpretá-los. Poderíamos afirmar então, que a história trata-se de uma forma de interpretação de signos, pois, o historiador trabalha com narrativas, não de acontecimentos puros e simples, e sim, de cruzamentos culturais humanos. Foucault vê no jogo de discursos o meio de apreender as transformações[7] culturais,  visto que, para ele, o homem está condicionado historicamente pelo coletivo, ou seja, o desejo individual é condicionado pelo mesmo[8], deixando o homem de ser o sujeito histórico e passando a ser sujeito da enunciação[9]. Para nós, embora o homem represente sua realidade conforme seus condicionamentos inconscientes, continua sendo ele o mentor de tais discursos, e por isso, o sujeito histórico.
A história tradicional[10], baseava-se em documentos oficiais para tratar a história dos acontecimentos políticos, que ocorriam numa esfera individual[11]. Isso acarretava uma visão oficial, unilateral e, por vezes, positivista dessas fontes documentais. A nova história[12], ao contrário, volta-se para a análise das estruturas, procurando novas evidências e a interdisciplinaridade para analisar o coletivo[13]. Em alguns casos, a descrição densifica-se, como no caso da micro-história, em que há uma redução da escala de observação e um estudo intensivo do material documental[14]. Esse é um procedimento analítico que nos reporta á teoria de Geertz, que realiza uma descrição densa do comportamento público, procurando o conteúdo simbólico da ação e o particularismo[15]. Essa análise cultural é estática, pois limita-se a uma constatação, despreocupada com a mecânica do poder. Já Sahlins, analisa dialeticamente as estruturas e os acontecimentos, fazendo uso do acontecimento para revelar  as estruturas da cultura[16].
A história cultural surge como resposta às necessidades metodológicas da nova história, pois se esta está fragmentada, devido às novas propostas de se analisar as estruturas e trabalhar o coletivo através da heteroglossia[17], é a cultura que vai ser utilizada como base para estes procedimentos. Dentro da história cultural, preocupada com caminhos alternativos, temos diferentes modelos de análise, que trabalham as interpenetrações culturais[18], através da representação e do conflito de discursos culturais.
Chartier analisa a representação em relação ao mundo social, como sendo um conjunto de práticas culturais em que os atores sociais interagem produzindo uma cultura específica. Desse modo, as práticas de apropriação cultural permitem formas diferenciadas de interpretação[19].  Para Chartier, as relações econômicas e sociais estão inseridas nesse campo de práticas culturais[20], deixando de lado a dicotomia cultura letrada e cultura popular e a diferenciação entre análise interna individual e abordagem externa coletiva[21].
Inspirado na obra de Mikhail Bakhtin sobre Rabelais, onde aparece implícita a noção de circularidade[22], Ginzburg propõe abertamente este conceito, ao utilizá-lo para tratar os conflitos culturais ocorridos entre os representantes da cultura popular e da letrada[23]. Para ele, é através desta circularidade cultural, que se originam as formações sociais híbridas, como exemplificado no estereótipo do sabá apresentado no livro História Noturna[24].   
A história cultural, tem portanto, por principal objecto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler[25]. Reiteramos nosso posicionamento, ao procurarmos interpretar os signos culturais que nos são deixados em crônicas e documentos antigos, rejeitando uma simples constatação e analisando a narrativa a respeito dos acontecimentos da época e também, o resultado das trocas culturais representadas nesses textos.  É na confluência dos discursos letrados e populares, que buscaremos tais realidades culturais e sociais.
Na apropriação cultural, os atores sociais interagindo, realizam a dinâmica da produção de cultura.  Ao utilizarmos textos antigos originados nesse processo, conforme a teoria de Chartier, devemos analisá-los tendo claro, que o relato falado é diferente do texto impresso, bem como, o ato de escrever é distinto da confecção de um livro[26]. As práticas de impressão, permitem a consolidação de sociabilidades e a determinação de comportamentos[27]. Ao analisarmos as crônicas do século XVI,  que tratam da história andina no período da conquista, estamos lidando com um conjunto de informações que são a representação desse mundo indígena, aos olhos de europeus, mestiços e autóctones impregnados de traços culturais espanhóis. Podemos considerar que os textos resultantes dessa apropriação cultural representam uma nova realidade, que acabará por ser assimilada e sociabilizada.
Complementando o posicionamento teórico de Chartier, lançamos mão da circularidade cultural, que Ginzburg observa entre letrados e populares, para analisarmos as crônicas. Chartier não admite essa dicotomia, porém, é no entrecruzamento cultural erudito e folclórico, que podemos vislumbrar a formação de uma cultura específica. Dificilmente, dentro de um círculo cultural popular sem influência externa de traços culturais eruditos, poderá formar-se outra representação cultural. A oposição faz-se necessária para desconstrução e construção de novos parâmetros culturais, sem que as características básicas de cada cultura sejam completamente perdidas. Se as fronteiras são criadas pelas exigências da interação social[28], acreditamos que fronteiras discursivas aparecem nessa interação cultural.


Pintura do muralista peruano Josué Sánchez


Crônicas quinhentistas e o ayllu andino

A alteridade está expressa nas crônicas espanholas do século XVI, pois retratam o relacionamento do “eu” com o “outro”, mostrando primeiro o julgamento de valor que os conquistadores faziam, procurando aproximarem-se ou distanciarem-se e depois conhecendo ou ignorando por completo a identidade do “outro”. Os espanhóis perceberam que a comunicação estava ligada ao poder e que o domínio dos signos autóctones podia propiciar a conquista. Baseados nessa concepção, procuraram compreender o “outro”, para dominá-lo e depois destruí-lo[29].
Ao conquistarem o Tahuantinsuyu, mais conhecido como Império Inca, não foi diferente. O espanhol que aí chegou, ou desprezou essa nova cultura ou procurou conhecê-la, comparando-a a características familiares[30], para então dominar essa população. Do relacionamento entre espanhóis e a população local, frutificaram muitas representações culturais expressas em documentos e crônicas quinhentistas. Houve sim, uma desestruturação[31] do mundo indígena, mas devido às fronteiras discursivas em que essas culturas antagônicas puderam encontrar-se, eclodiu uma cultura, que poderíamos denominar híbrida, segundo Ginzburg, ou mestiça, conforme Gruzinski[32].
Para  exemplificarmos essa dinâmica cultural, que foi expressa de forma discursiva por cronistas, abordaremos as mudanças ocorridas com o ayllu andino no período inicial da colonização espanhola. O ayllu trata-se de uma estrutura indígena, que no período pré-colonial conformava um grupo ligado por laços de parentesco, possuidor ou não de um espaço territorial delimitado[33].  Era também, o símbolo do inconsciente coletivo andino, a unidade simbólica mítica, social, econômica e política. Os cronistas espanhóis[34] apropriaram-se do significante e não do significado do ayllu, permitindo diversas interpretações aculturadas. Esses cronistas descreveram o ayllu de acordo com seus critérios mentais, conferindo-lhe por vezes, uma conotação territorial baseada em suas próprias concepções de comunidade camponesa. Essa prática deveu-se não só à incompreensão diante de um mundo organizado de forma distinta do seu, mas também à necessidade de atender a interesses viabilizantes do sistema organizativo colonial.
A colonização espanhola na região andina, implantou um sistema monárquico centralizador, para o qual, era necessário o controle das comunidades locais. Para tanto, era necessário convencê-los, tornar natural[35] a sua supremacia, inserindo o ayllu nos padrões europeus de comunidade camponesa. Esperava-se com isso, que os chefes locais passassem a prestar obediência aos representantes da coroa espanhola, seguindo as normas estabelecidas e expressas nos discursos que atendiam aos interesses institucionais[36]. A concepção territorial auferida ao ayllu, não foi portanto, apenas um resultado da incompreensão da simbologia indígena por parte dos espanhóis, mas principalmente,  um instrumento de controle social e econômico.
 No período colonial, o ayllu configura-se como um espaço territorial[37],  visto que é durante o período toledano, que vários ayllus são reagrupados para conformarem reduções, conferindo-lhes um caráter espacial[38]. O ayllu colonial, poderia tratar-se apenas de um resultado de práticas culturais compartilhadas entre os diferentes grupos, porém, devido às diversas representações a ele atribuídas pelos cronistas desde o período da conquista, conjecturamos que tais discursos também atendiam à necessidade de legitimar o poder espanhol,  convertendo o ayllu em núcleo produtivo e passível de controle[39]. As crônicas indígenas[40], de que dispomos, foram redigidas durante o período colonial por indivíduos que viveram um processo de aculturação, em que sua utensilagem mental mesclou-se a traços culturais europeus, originando um discurso mestiço[41].
O ayllu colonial nasce nessa fronteira discursiva, em que a visão européia e indígena se encontram, dando origem a essa nova concepção, que de representação passa a prática. Fronteiras são simbólicas e construídas pela necessidade de diferenciação entre grupos, que se reconhecem entre si, através de traços culturais representados em sinais, símbolos e discursos. Quando culturas diferentes interagem, essas fronteiras rompem-se parcialmente, permitindo o surgimento de representações culturais distintas.

Considerações finais

As crônicas do século XVI representam o resultado da confluência de discursos culturais distintos. O processo de alteridade vivido por espanhóis e indígenas, em que ambos procuram conhecer o outro recorrendo a referências culturais familiares, demonstra a existência de fronteiras discursivas propicias a uma interação cultural.
Numa análise contemporânea sobre fronteiras culturais da nação, Komi Bhabha  coloca que as fronteiras são entrelugares, através dos quais, as significações de autoridade cultural e política são negociadas e que na diferença cultural estabelecem-se novas formas de significado e estratégias de identificação, onde não se pode estabelecer uma autoridade discursiva sem que a própria diferença seja revelada[42].
Aplicando-se essa premissa na análise das crônicas quinhentistas, percebemos que essas narrativas são resultantes da negociação de diferenças e familiaridades ocorridas na fronteira discursiva dessas culturas. Essas fronteiras são perceptíveis e marcantes, mas permitem a formação de um discurso cultural híbrido.
Para se garantir a intelegibilidade de uma mensagem é necessário o reconhecimento de discursos desterritorializados[43]. Ao utilizarem referências culturais comuns, os cronistas espanhóis e indígenas do século XVI, procuraram a princípio estabalecer um sistema de comunicação e posteriormente a legitimação de um discurso cultural preponderante.
Na análise específica do significado do ayllu andino, após o encontro de distintos discursos culturais, foi-lhe atribuído uma acepção compreensível aos dois grupos. A partir do período colonial, o ayllu representava algo distinto do que havia sido em tempos incaicos e na prática, converteu-se em estrutura beneficiadora da política colonial espanhola.




[1] Fevbre, Lucien. Le problème de l’incroyance au 16e siècle; la religion de Rabelais. Paris: Albin Michel, 1988, p. 328.
[2] Chartier, Roger. A história cultural; entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990, p. 37.
[3] Índios alfabetizadas e evangelizados pelos espanhóis.
[4] Burke, PeterA história dos acontecimentos e o renascimento da narrativa. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história; novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992b, pp. 326-348.
[5] Ginzburg, Carlo. Provas e possibilidades à margem de “Il ritorno de Martin Guerre”, de Natalie Zemon Davis. In: A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1991a, pp. 179-202.
[6] Ginzburg, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais; morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 , pp. 143-179.
[7] O’Brien, Patricia. A história da cultura de Michel Foucault. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes,  1992, p. 59.
[8] Foucault retorna ao sujeito nos volumes II e III da História da Sexualidade, sendo que um sujeito com desejos, visto que está trabalhando com um referencial histórico, que parte da Antigüidade Greco-romana e não somente do Renascimento, como o fez em outras obras  In: Foucault, Michel.  Histoire du sexualitè. Paris: Gallimard, 1984. V.II: L’usage des plaisirs. V.III: Le souci de soi. 1984.
[9] Foucault, Michel. A arqueologia do saber. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
[10] Sobre a história tradicional, Peter Burke coloca: “A forma dominante, porém, tem sido a narrativa dos acontecimentos políticos e militares, apresentada como a história dos grandes feitos de grandes homens-chefes militares e reis. Foi durante o Iluminismo que ocorreu, pela primeira vez, uma contestação a esse tipo de narrativa histórica” In: A Escola dos Annales (1929-1989); a Revolução Francesa da historiografia. 2.ed. São Paulo: Unesp, 1992c,  p. 17.
[11] Burke, Peter. Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história; novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992a, pp. 10-13.
[12] A nova história é resultado da contribuição do grupo dos Annales, que “...ampliou o território da história, abrangendo áreas inesperadas do comportamento humano e a grupos sociais negligenciados pelos historiadores tradicionais. Essas extensões do território histórico estão vinculadas à descoberta de novas fontes e ao desenvolvimento de novos métodos para explorá-las. Estão também associadas à colaboração com outras ciências, ligadas ao estudo da humanidade, da geografia  à lingüística, da economia à psicologia. Essa colaboração interdisciplinar manteve-se por mais de sessenta anos, um fenômeno sem precedentes na história das ciências sociais” (Burke, op.cit., 1992c, pp. 126-127).
[13] Burke, op. cit., 1992a, pp. 12-16.
[14] Levi, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história; novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992, p. 136.
[15] Geertz, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989, pp. 13-41.
[16] Sahlins Apud Burke, op. cit., 1992b, p. 346.
[17] Burke, op. cit., 1992a, pp. 14-16.
[18] Vainfas, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 152.
[19] Chartier, op. cit., 1990, p. 28.
[20] Hunt, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992,  p. 9.
[21] Chartier, op. cit., 1990, pp. 54-55.
[22] Bakhtin, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 2.ed. São Paulo-Brasília: Edunb/Hucitec, 1993.
[23] Vainfas, op. cit., 1997, p. 152.
[24] Ginzburg, Carlo. História noturna; decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras,
1991b, p. 22. Ao analisar a história da Santidade ameríndia de Jaguaripe, Ronaldo Vainfas a define enquanto exemplo de hibridismo cultural e de triunfo do colonialismo, A heresia dos índios; catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 228.
[25] Chartier, op. cit., 1990, pp. 16-17.
[26] Chartier, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 218 e 219.
[27] Idem, 1992, p.237.
[28] Guibernau, Montserrat. Nacionalismos; o estado nacional e o nacionalismo no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p.91.
[29] A questão da alteridade é analisada por Todorov na obra  A conquista da América, 1988.
[30] Souza, Laura de Mello e. O conjunto: América diabólica. In: Inferno Atlântico; demonologia e colonização. Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.26.
[31]... “por el término  de ‘desestruturación’ entendemos la supervivencia de estructuras antiguas o de elementos parciales de ellas, pero fuera del contexto relativamente coherente en el cual se situaban...”  Wachtel, Nathan. Los vencidos. Los indios del Perú frente a la conquista española (1530-1570). Madrid: Alianza Editorial, 1976b, p.135.
[32]El mestizaje no fue sólo yuxtaposición o adición. Pudo generar formas culturales nuevas que se ubicaron más allá de la tradición americana y de las importaciones occidentales” (Gruzinski, Serge. Las repercusiones de la conquista: la experiencia novohispana. In: BERNAND, Carmen (Org.). Descubrimiento, conquista y colonización de América a quinientos años. México: FCE, 1994, p.169).
[33] Portugal, Ana Raqel M. da C. M. O conceito de ayllu nas crônicas de interesse peruano do século XVI. Dissertação de mestrado em História da Unisinos/RS, 1995, p. 97.
[34] Sobre a acepção de ayllu tida pelos cronistas espanhóis Cieza de León (1551), Juan de Matienzo (1567) e José de Acosta (1590), ver Portugal, Ana Raquel M. da C. M. Síntese analítica da concepção de ayllu em crônicas do século XVI. Estudos Leopoldenses. v.32, n.148, jul/ago, 1996, pp.91-95.
[35] Bourdieu, Bobbio Apud Campos, Pedro Marcelo Pasche de. As marcas do poder: Inquisição e normatização no início da Época Moderna. Praia Grande; caderno de História. n.1, ano II, Niterói: Eduff, 1998, pp.65-66.
[36] Esse é o período em que nasce o Estado moderno, que para afirmar-se, recorre a instrumentos que lhe permitam acumular um capital simbólico-cultural legitimador, usado para formar no seio da população um consenso e uma aceitação do poder da Coroa. Paralelo a esse processo, ocorre a Reforma religiosa, que também cria elementos pedagógicos e difusores de uma cultura específica. Estado e Igreja atuaram paralelamente, utilizando métodos e estratégias de aculturação (Campos, op. cit., 1998, pp.71-72).
[37] A respeito da concepção territorial atribuída ao ayllu por cronistas do século XVI, ver também: Pease, Franklin. Ayllu y parcialidad, reflexiones sobre el caso de Collaguas; Rostworowski de Diez Canseco, María. La voz parcialidad en su contexto en los siglos XVI y XVII.  e Espinoza Soriano, Waldemar. El fundamento territorial del ayllu serrano. Siglos XV y XVI. In: CASTELLI, Amalia, PAREDE, Marcia Koth, PEASE, Mariana Mould de. Etnohistoria y antropología andina. Lima: Centro de Projección Cristiana, 1981.
[38] Portugal, op. cit., 1996, p. 99.
[39]They therefore wanted the Indians in accessible locations near their farms and mines, so that they could have no pretext for resistance. Thus, under the guise of aiding, instructing, and indoctrinating them ‘in order that they shall not live scattered in the lands and forests, deprived of all spiritual benefit and of living in good order (polícia)’, their reduction (reducción) was ordered. This consisted of compelling  them to abandon villages, which were located on their original marcas (communal lands), to move to open, flat places, which the conquerors chose. The new towns established on these locations included the inhabitants of two, three or more ayllus which were thus reduced to only one comunity” In: Pozo, Hildebrando Castro. Social and economico-political evolution of the communities of Central Perú. In: STEWARD, H. Julian. Handbook of South American Indians. New York: Cooper Square Publishers INC, 1963. V.2: The Andean Civilizations, edited by Julian H. Steward, p.489.
[40] Sobre a conotação de ayllu entre cronistas indígenas Garcilsaso de la Vega (1609), Joan de Santa Cruz Pachacuti (1613) e Guaman Poma de Ayala (1615), ver Ana Portugal, op. cit., 1996, pp.95-98.
[41]Junto con las crónicas españolas existen también relatos escritos por indígenas o mestizos durante la época colonial: Titu Cussi Yupanqui, Guamán Poma de Ayala, Joan de Santa Cruz Pachacuti y Garcilaso de la Vega. Algunos investigadores han acentuado las características ‘andinas’ de estos escritores, privilegiando la fuerza de la sangre sobre la educación. La visión que estas narraciones nos brindan sobre el mundo indígena y colonial es una visión mestiza, que trata de conciliar el pasado con los principios universales del cristianismo”  (Bernand, Carmen. Descubrimiento, conquista y colonización de América a quinientos años. Mexico: FCE, 1994, pp.71-72).
[42] Bhabha, Komi K. Narrando a Nação e DissemiNação: tempo, narrativa e as margens da nação moderna. Trad. Glória Maria de Mello Carvalho. Mimeo, Belo Horizonte, 1995, pag. 4 e 27.
[43] Ortiz, Renato. Mundialização e cultura. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, p.128.


NOTA:
Artigo originalmente publicado em:
PORTUGAL, Ana Raquel . Fronteiras discursivas em crônicas hispano-americanas da conquista. Itinerarios (Warszawa), Varsóvia, v. 4, n.4, p. 151-160, 2001.

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